sexta-feira, 16 de maio de 2008

O cigarrito do Sócrates e o País

O incidente “cigarrinho a bordo” é absolutamente paradigmático enquanto testemunho do lado negro do País que somos.

Um País de bufos (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão);
Um País de autoritarismos arrogantes (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão);
Um País de desculpem lá qualquer coisinha que eu não torno (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão);
Um País de maus jornalistas que se pelam pelo fait divers e descuram o essencial (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão) – o que não teriam escrito se em vez do Sócrates ter fumado no avião, fosse o avião a fumar no Sócrates;
Um País em que há opinião púbica e não opinião pública, em que os “pentelhos” substituem os neurónios (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão).

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Porque amanhã é Primeiro de Maio

O Movimento Sindical e os Sindicatos em geral são elementos imprescindíveis numa democracia e numa economia de mercado.
São imprescindíveis como reguladores das relações de trabalho e na protecção dos direitos dos trabalhadores e dentro deles do mais importante: o direito ao trabalho.
O direito ao trabalho, sobretudo num tempo em que o desemprego grassa e cresce deve ser, inquestionavelmente a principal prioridade da luta sindical.
A questão do emprego não pode ser separada da natureza do mercado vigente, nem das condições económicas, financeiras e de competitividade que regem esse mesmo mercado.
O mercado hoje, e consequentemente a própria natureza do trabalho e do emprego, é manifestamente diferente do mercado de há vinte e trinta anos.
Os problemas são completamente distintos, as exigências são absolutamente diferentes e os perigos da exclusão são muitíssimo maiores.
O Movimento Sindical Português, e os Sindicatos Portugueses, mantêm um discurso e uma linha de actuação perfeitamente inalterada desde o ano de mil novecentos e setenta e cinco, o que se torna absolutamente confrangedor para uma intervenção de qualidade neste dealbar do século XXI, com prejuízo evidente para os próprios trabalhadores. A falência, quer do discurso quer da praxis sindical actual, tem a sua prova quer no próprio crescimento do desemprego quer na paulatina perda de competitividade das nossas empresas. Não estou a afirmar que a culpa do desemprego e da falta competitividade seja dos sindicatos, o que estou a dizer em que estes em nada contribuíram para que a realidade seja diferente.
Ao não contribuírem em nada para que esta triste realidade se altere, os sindicatos perdem, todos os dias, utilidade social clara e perdem-na, sobretudo, para os próprios trabalhadores.
Na maior parte das situações de conflito ou de crise empresarial, os sindicatos têm sido mais um problema para os trabalhadores do que um instrumento válido para a resolução dos seus próprios problemas.
Presos a postulados que a própria lógica da economia tornou obsoletos, completamente contaminados pelas lógicas político-partidárias, os sindicatos, hoje, não são mais do que caixas de ressonância da “não solução”.
É altura dos trabalhadores começarem a equacionar que tipo de estruturas sindicais é que verdadeiramente precisam.
Os sindicatos poderiam ser agentes activos da mudança e do progresso. Os sindicatos poderiam ser instrumentos da melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores.
Poderiam ser se tivessem assumido, a tempo e horas, um papel sério na questão da formação e da requalificação profissional, e não terem sido esbanjadores de recursos e oportunidades nessa área, um papel sério no repensar da legislação laboral, que tem que ser constituída na lógica da protecção não dos empresários nem dos trabalhadores, mas na lógica da protecção da própria empresa, de forma a torná-la duradoura e operante num mercado ferozmente competitivo.
A manutenção de um posto de trabalho, num mercado não protegido, depende exclusivamente da rentabilidade intrínseca desse mesmo posto de trabalho, e essa rentabilidade é aferida quer pela produtividade do trabalhador quer pela utilidade desse mesmo posto na própria cadeia produtiva. Essa rentabilidade não é conseguida nem por decreto nem por reivindicação sindical.
Um discurso sindical ultrapassado e sem capacidade para introduzir mudanças, optimiza as condições de desresponsabilização dos empresários perante as empresas e perante os trabalhadores das mesmas, já que esse mesmo discurso demagógico e irrealista não serve absolutamente para nada e portanto nem sequer é escutado.
É evidente que este enquistamento sindical, embora seja tremendamente prejudicial para os trabalhadores, favorece os dirigentes sindicais, que muito mais do que os políticos, se eternizam nas suas funções. Este sindicalismo desinteressa aos trabalhadores da nova geração porque nada lhes diz nem nada lhes garante. Ao desinteressar aos novos trabalhadores assegura a manutenção de dirigentes sem qualquer qualificação para serem agentes da mudança.
Basta escutarmos com alguma atenção as constantes declarações de um senhor chamado Mário Nogueira, ligado à filial sindical para os professores do PCP, para se perceber com ilustração conveniente tudo o quanto não deve ser um dirigente sindical na actualidade...
Eu acredito, com sinceridade, na importância do Movimento Sindical, mas essa importância só é efectiva se houver uma mudança profunda na própria natureza do sindicalismo.
O sindicalismo não pode nem deve ser apenas uma bandeira de direitos, direitos esses, na sua maioria, já sem sentido nos dias de hoje. Tem que ser, também, uma baliza clara de deveres. Deveres de responsabilização da força laboral, de qualificação e de intervenção séria no sentido da manutenção e crescimento do emprego.
Já alguma vez os trabalhadores se questionaram para que servem as quotas que, mensalmente, pagam aos seus sindicatos? Têm servido para assegurarem complementos de reforma decentes? Têm servido para formar uma bolsa de seguros fortes? Têm servido para constituírem bolsas de formação e requalificação profissional? Têm servido para constituírem serviços de prestação de saúde alternativos? Na maior parte dos casos....não!

Então para que tem servido esse dinheiro, que não é tão pouco quanto isso? Não sei.

domingo, 27 de abril de 2008

O discurso do Prof Cavaco

Confesso que Cavaco Silva tem-me surpreendido pela positiva enquanto Presidente da República, tendo em conta a forma como exerceu as funções de Primeiro Ministro. Considero que, de uma forma geral, tem contribuído para alguma réstia de sanidade do actual regime e que se tem controlado em relação a algum paternal autoritarismo que eventualmente lhe poderia ter ficado de outros tempos, se bem que foi esse mesmo paternal autoritarismo que o fez amado por tantos e que contribuiu para a sua vitória presidencial.
Considero que Cavaco neste universo de mediocridade até consegue ser o melhorzinho dos medíocres. Aproveito para declarar que nunca e em circunstância alguma votei nele, mas eu não votei mesmo ao contrário de muita gente que em tempos idos lhe concedeu a maioria absoluta e que depois afirmava a pés juntos “eu não votei nele, credo!”, fazendo-me muitas vezes pensar como é que o homem teria conseguida a tal maioria já que afinal ninguém tinha votado nele.
O discurso do dito no passado dia 25, além de ter contribuído para dar a ganhar algum dinheirito à Católica para produzir um estudo sobre coisas que toda a gente sabe, bastando não dormir o dia todo, esteve bem. Esteve à altura do palco, cenário, co-actores e maioria dos espectadores.
Foi desinteressante, lapalissiano.
Se o “Sôr” Senhor Presidente em vez de dizer que os “jovens não sabem nada sobre o 25 de Abril”, tivesse dito “os jovens não sabem nada sobre muito e muito pouco sobre pouquíssimo e eu, enquanto ex-Primeiro Ministro com maioria absoluta durante duas legislaturas, tenho muita vergonha sobre esta situação”, talvez me tivesse feito arrebitar a orelha que tapa o ouvido que melhor escuta e pensar cá comigo: “ora aí está um filho de boa gente”.
Mas não disse nada disso e a tal orelha – que por mero acaso é a esquerda – não se arrebitou.
Assim sendo, “lá vamos cantando e rindo….”.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Nota abrilina


Para mim o mais execrável do antigo regime nem sequer é o facto de ter sido uma ditadura longa e chata.O mais execrável do antigo regime, na minha opinião, foi ter sabido catalizar o pior do que há em muitos portugueses.O pior que há em muitos portugueses é uma propensão natural para a denúncia, para os “empenhos e cunhas”, para o “medinho e respeitinho”, para o ósculo anal aos poderosos e o pisar os calos aos mais fracos.O antigo regime serviu-se disso tudo. O ruralista Salazar, que nem sequer se sentia o “dono da quinta” mas muito mais o seu feitor, com matreirice adquirida do berço, enformada previamente ao parto pela escolha da “Senhora Madrinha” adequada, sublimada pelas passadinhas curtas em corredor de seminário, sabia muito bem disso tudo e como lidar com “o pessoal”.No entanto, desenganem-se todos aqueles, que essa desgraçada propensão se quebrou ao som da Grândola Vila Morena.Está cá, continua cá e por cá, em todas as esquinas, se pode encontrar, da mesma forma que sempre que houver merda se encontrará a zumbidora varejeira.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Da Natureza de Portugal

Portugal tem um excesso de comentadores e uma enorme míngua de pensadores, o que significa que Portugal está transformado num “pântano” de fait-divers e num deserto de “Ideias”.
Esse facto, além de ser causa e consequência do nosso lastimável estado é contra natura à natureza de Portugal.
Portugal, Estado-Nação, é Povo, é Território mas é, sobretudo, uma “Ideia”. Uma “Ideia” secular, latente, ainda por consumar, uma Causa em construção ainda por se revelar.
Portugal é uma geografia mental com algumas representações físicas espalhadas por todos os cantos do Mundo.
Somos uma estranha Nação, que se legitima perante si própria e perante as demais por muitas razões, mas duas bastam: não ser Espanha e ter feito o Brasil.
Não somos nem melhores nem piores que os demais, somos apenas diferentes. E a nossa diferença reside na constatação que só Somos em função dos demais. Não somos por nós, mas pelos outros que estão à nossa volta, pelos outros que estão em nós.
Um postal ilustrado de Portugal pode muito bem ser um sobreiral plantado nas terras húmidas de Goa, ou um índio da Amazónia a passear nos claustros da Batalha.
Não sei se me fiz entender.

Deus queira!

A esta hora ainda não sei se o Alberto João é candidato a líder do PSD.
Eu gostava que fosse e que ganhasse as eleições. Com sorte resolviam-se duas coisas ao mesmo tempo: desajardinava-se a Madeira e este PSD estourava e com esse estouro talvez, um talvez muito talvez, um outro PSD renascesse.